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Regime de ditador Assad cai na Síria; presidente foge e está desaparecido

A renúncia e a fuga do ex-ditador da Síria Bashar al-Assad foram ratificadas pela Rússia, um de seus maiores aliados internacionais, neste domingo (8). A informação se dá horas após a conquista da capital, Damasco, por rebeldes, e confirma a queda do regime de mais de duas décadas do líder.

Os insurgentes anunciaram a entrada em Damasco na noite de sábado (7), já madrugada de domingo no horário local. Segundo eles, não havia sinal de presença do Exército sírio.

Relatos dão conta de que a tomada foi recebida com euforia pelos residentes da capital, com milhares de pessoas em carros e a pé se reunindo em uma praça central para agitar bandeiras e cantar pela liberdade após meio século de domínio da família Assad. Antes, centenas de detentos haviam sido libertados de um complexo prisional nos arredores de Damasco.

Vários dos habitantes invadiram o palácio presidencial, e alguns foram vistos saqueando o local. Os próprios insurgentes fizeram uma incursão à embaixada do Irã, outro dos principais parceiros do regime, de acordo com a Press TV, canal de notícias de Teerã em inglês.

Enquanto isso, o comando do Exército notificava os militares da queda do regime de Assad, disse um militar à agência Reuters sob anonimato. As forças negaram a informação oficialmente, dizendo que seguiam com as operações contra os “grupos terroristas” nas cidades de Hama e Homs, no centro e na zona rural de Daraa, no sul.

Autoridades também afirmaram sob reserva que o Hezbollah, grupo islâmico libanês que por anos forneceu apoio crucial a Assad, retirou todas as suas forças de segurança da Síria no sábado, quando os rebeldes se aproximavam da capital.

Avanços

A queda de Damasco foi antecedida por rápidos avanços dos insurgentes em diversos pontos do território. Desde a invasão de Aleppo, no norte, no dia 29, as defesas de Assad desmoronaram. Além dela e de Hama e Homs, foram tomadas Deir al-Zor, no leste, e Quneitra, Deraa e Suweida, no sul.

O HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe), organização cuja origem remonta à rede terrorista Al Qaeda, tem sido a protagonista dos combates contra o Exército sírio, e assumiu a conquista das principais cidades de Aleppo, Hama e Homs. Mas a própria facção é uma coalizão de cinco milícias principais e seis, secundárias, que têm desavenças entre si.

Os demais insurgentes tampouco compõem um grupo homogêneo. A cidade de Daraa, simbólica por ter sido o berço da revolta síria em meio à Primavera Árabe, foi tomada por um grupo que só se juntou aos enfrentamentos contra o regime na sexta-feira, por exemplo.

A ressurreição observada na última semana e a facilidade com que ela derrubou as forças de defesa do regime impressionam. O conflito interno parecia basicamente congelado desde 2020. Naquele ano, a Turquia, que apoia os rebeldes, e a Rússia, parceira de longa data da ditadura de Assad, acertaram um cessar-fogo entre os grupos que apoiavam no norte e nordeste do país.

A propalada queda de Assad se deve em parte ao atual contexto geopolítico. O regime sempre contou com seus aliados internacionais para subjugar os rebeldes. Bombardeios por aviões de guerra da Rússia eram frequentes, e o Irã enviou integrantes do grupo islâmico libanês Hezbollah e milícias iraquianas para reforçar o Exército sírio e atacar redutos de insurgentes.

Mas Moscou tem se concentrado na Guerra da Ucrânia desde 2022, e o Hezbollah sofreu grandes perdas em sua própria guerra contra Israel, o que limitou consideravelmente a capacidade da organização e do Irã de auxiliar o regime.

Futuro incerto

O futuro do país, por sua vez, continua incerto, e instabilidade abre a possibilidade de que a guerra civil que matou 500 mil sírios e forçou o deslocamento de outros 6 milhões seja retomada com força total.

Além disso, o HTS é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, e seu líder, Abu Mohammad al-Jolani, é visto como autoritário e extremista, embora tenha insistido que conseguiu transformar a facção em uma força moderada nos últimos anos.

Mesmo assim, grande parte dos sírios deu demonstrações de esperança ao longo da última semana. Quando o HTS anunciou o controle total de Homs na noite de sábado, por exemplo, milhares dos residentes saíram às ruas dançando e gritando “Assad se foi, Homs está livre” e “Viva a Síria e abaixo Bashar al-Assad”. Rebeldes dispararam para o ar em celebração, e jovens rasgaram cartazes do ex-ditador sírio pela cidade.

Da Folha de S. Paulo com informações da Reuters