O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, realizou no sábado (6) uma visita técnica ao primeiro Centro de Referência em Saúde Indígena (CRSI Xapori Yanomami) do Brasil, localizado no território Yanomami, em Roraima. A visita marcou o início dos atendimentos da unidade, considerada um marco para a saúde indígena no país.
Com investimento federal de aproximadamente R$ 29 milhões, o centro amplia o acesso a cuidados médicos, melhora a infraestrutura e eleva a qualidade da assistência às comunidades indígenas da região. Segundo o ministro, a obra representa uma ruptura com décadas de negligência.
“A última construção aqui foi em 1992. Estamos trazendo a saúde da terra indígena Surucucu para o século XXI, com equipamentos modernos, melhores condições de trabalho para os profissionais e acolhimento digno para a população indígena”, declarou Padilha.
O projeto foi viabilizado por meio de um acordo de cooperação técnica entre o Ministério da Saúde, a Central Única das Favelas (Cufa) e a organização Target Ruediger Nehberg Brasil. A iniciativa também conta com o apoio do Exército, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Defesa e do Ministério de Minas e Energia.
Além do CRSI inaugurado, outras duas unidades devem ser entregues até o fim de 2026. Também está em andamento a reestruturação da Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista e a consolidação de uma parceria com o Hospital Universitário.
A nova unidade beneficiará cerca de 10 mil indígenas de 60 comunidades, com foco em atender casos agudos e graves no próprio território, reduzindo a necessidade de remoções para centros urbanos. A estrutura respeita o perfil epidemiológico e as especificidades culturais dos povos indígenas, promovendo cuidado contínuo, de urgência e emergência.
Padilha também ressaltou os avanços na força de trabalho.
“Quando começamos o governo, apenas sete polos contavam com profissionais. Hoje são mais de 30 com médicos do Mais Médicos, nutricionistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. É um aumento de 169% no número de profissionais na Terra Yanomami.”
O investimento de R$ 29 milhões inclui R$ 15 milhões para construção, equipamentos e insumos e R$ 14 milhões para o custeio de 164 profissionais, divididos entre equipes de saúde (114), logística (40) e infraestrutura e saneamento (10). A equipe é formada por médicos clínicos, especialistas, dentistas, agentes indígenas de saúde, agentes de endemias e técnicos diversos.
A unidade possui 1.300 m² de área construída, com capacidade para acolher até 120 pessoas entre pacientes e acompanhantes. A infraestrutura está dividida em três blocos: um alojamento de 387 m², uma área de atendimento com 801 m² e um refeitório de 122 m², garantindo também o suporte nutricional.
Entre os serviços ofertados, estão exames laboratoriais, raio-X, ultrassonografia, doppler fetal, eletrocardiograma, pré-natal, exames de câncer do colo do útero, testes rápidos de malária e salas de estabilização com oxigenoterapia. Há ainda sistemas para refrigeração de vacinas e medicamentos, além de energia e abastecimento de água sustentáveis.
De acordo com o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, o novo centro representa um salto na capacidade de resposta no território.
“Com o laboratório no local, o indígena não precisa mais se deslocar até Boa Vista para realizar exames – algo que dependia de voos e logística complexa.”
Dados preliminares do Ministério da Saúde apontam que, em dois anos, o território Yanomami teve uma redução de 33% nas mortes. A mortalidade por doenças respiratórias caiu 45%, por malária 65% e por desnutrição 74%, comparando o primeiro semestre de 2025 com o mesmo período de 2023.
O número de profissionais de saúde aumentou de 690 (em 2022) para 1.855 (em 2025). Até o momento, mais de 154 mil atendimentos foram registrados neste ano. A cobertura nutricional também cresceu: quase 80% das crianças menores de cinco anos são acompanhadas pela Vigilância Alimentar e Nutricional, com melhora no índice de peso adequado.
O território do Dsei Yanomami cobre mais de 9,6 milhões de hectares nos estados de Roraima e Amazonas. Criado como o primeiro Distrito Sanitário Especial Indígena do país, ele conta atualmente com todos os 37 polos de saúde em pleno funcionamento.
Desde a decretação da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), em 2023, o governo federal investiu R$ 256 milhões na recuperação da saúde indígena no território Yanomami.