O Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista, realizou pela primeira vez uma cirurgia de neuroendoscopia ventricular — conhecida como “lavagem cerebral” — em um recém-nascido. O procedimento inédito foi feito na quarta-feira (17) no bebê Theo Lorenzo Reis Neves, que nasceu com complicações após uma hemorragia craniana.
Segundo os médicos, o caso era delicado devido ao alto risco de o recém-nascido desenvolver hidrocefalia, condição provocada pelo acúmulo de líquido no cérebro, que pode comprometer o desenvolvimento neurológico.
A cirurgia, chamada tecnicamente de “brainwash”, foi realizada com o uso de um neuroendoscópio de alta tecnologia recém-adquirido pela maternidade. O objetivo foi reduzir os riscos de sequelas ao remover resíduos da hemorragia que irritam o sistema ventricular.
“A cirurgia consiste em uma lavagem da cavidade ventricular, que estava cheia de sangue e resíduos da degradação da hemoglobina. Isso irrita o ventrículo, causa reação inflamatória e pode evoluir para hidrocefalia”, explicou o neurocirurgião Harison Vaz. “Ao lavar e limpar essa cavidade, diminuímos a quantidade de proteínas no líquor e damos uma resposta inflamatória melhor para a criança, reduzindo significativamente o risco da doença”, completou.
O médico destacou ainda os benefícios do novo equipamento utilizado no procedimento.
“Utilizamos o neuroendoscópio para navegar dentro da cavidade ventricular, visualizar os resíduos e fazer a remoção do sangue acumulado. O objetivo é deixar o líquido o mais claro possível. Se não fosse realizada essa técnica, a alternativa seria a derivação ventricular externa, que tem eficácia, mas aumenta o risco de infecção após cinco dias, podendo evoluir para meningite. Com o brainwash, conseguimos oferecer uma solução mais moderna e segura”, explicou.
A mãe do bebê, Katielle Silva dos Reis, contou sobre a dificuldade da gestação e a emoção ao ver o filho passar pela cirurgia.
“A minha gestação foi bem difícil por causa da diabetes gestacional e depois veio o diagnóstico de hidrocefalia. Fiquei muito aflita e com medo, mas os médicos sempre me explicaram cada passo. O atendimento tem sido muito atencioso. Essa é a quarta cirurgia do meu bebê e, para mim, é muito importante que seja a primeira vez que esse procedimento é realizado aqui na maternidade. Eu espero que ele tenha uma vida melhor, com todo o acompanhamento e cuidado que está recebendo”, disse.
A cirurgia representa um avanço importante para a medicina neonatal em Roraima, ampliando as possibilidades de tratamento para recém-nascidos com complicações neurológicas graves.
