Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) identificaram mais de 100 pegadas fossilizadas de dinossauros na bacia sedimentar do rio Tacutu, no município de Bonfim, norte do Estado. As marcas, com idade estimada entre 103 e 127 milhões de anos, foram confirmadas após 14 anos de estudos contínuos na região.

A descoberta inicial ocorreu em 2011, durante um mapeamento conduzido pelo geólogo Vladimir de Souza com alunos do curso de Geologia da UFRR. As pegadas estavam preservadas em lajedos — formações rochosas expostas — e indicam a presença de diferentes espécies de dinossauros.

Segundo o pesquisador Lucas Barros, mestre em Ciências Biológicas e um dos responsáveis pelo estudo, a equipe já realizou cerca de 80 coletas.

“Dessas nós vamos ter aí pelo menos uma pegada em cada coleta. Mas estimamos que existam mais de 100 pegadas, talvez na casa de algumas centenas. Só que a maioria não está bem preservada”, afirmou.

Os registros apontam para a presença de quatro grupos distintos de dinossauros: ornitópodes, saurópodes, terópodes e tireóforos. Embora ainda não seja possível determinar as espécies exatas, a análise é feita com base em morfotipos, que refletem as diferenças anatômicas entre esses grupos pré-históricos.

Barros explica que algumas pegadas pertencem a animais de grande porte.

“Por exemplo, em sauropoda, sabemos que a grande maior parte desses animais era de proporções gigantescas, e que suas patas geralmente deixavam pegadas arredondadas, às vezes com os cinco dígitos preservados”, explicou.

O pesquisador também destacou marcas atribuídas aos dromeossaurídeos, grupo de terópodes ao qual pertence o Utahraptor, um dos maiores raptores já descritos.

“Nós estimamos que aqui em Roraima tínhamos dinossauros pelo menos do tamanho dele, do mesmo grupo de dinossauros”, disse.

O trabalho, desenvolvido com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e recursos da UFRR, resultou em um artigo submetido à revista científica Cretaceous Research.

Para Vladimir de Souza, a descoberta marca um avanço importante para a paleontologia no Norte do Brasil.

“É possível ver no campo pegadas de herbívoros ao centro e, nas bordas, as dos raptores, como se estivessem seguindo as manadas. Os dinossauros não apenas passaram por aqui, eles viviam aqui”, destacou.

As pegadas foram encontradas exclusivamente na Formação Serra do Tucano, e até o momento não há registros semelhantes na Guiana. O estudo reforça o potencial de Roraima como uma das áreas mais promissoras para pesquisas paleontológicas na Amazônia.

Com informações de Aventuras na História