A facção criminosa venezuelana Tren de Aragua vem se consolidando como o maior grupo do crime organizado em Roraima, com atuação estratégica que abrange desde o controle do tráfico de drogas e da prostituição em bairros de Boa Vista até a exploração da fronteira com a Venezuela em Pacaraima. Além disso, mantém parcerias comerciais com as organizações criminosas brasileiras Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).

O grupo, fundado em 2005 no estado venezuelano de Aragua, tem sua origem em um sindicato ferroviário, mas sua expansão para o Brasil ocorreu principalmente nos últimos sete anos, impulsionada pela crise humanitária na Venezuela que gerou intenso fluxo migratório para Roraima. Segundo investigações da Polícia Civil do Estado, o Tren de Aragua atua em múltiplos crimes, incluindo homicídios, tráfico e exploração sexual, principalmente entre refugiados venezuelanos.

Em novembro de 2024, a Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Roraima encontrou um cemitério clandestino em Boa Vista, com ao menos nove corpos enterrados em área de mata, todos identificados como venezuelanos. A violência da facção também se refletiu em mais de dez assassinatos atribuídos ao grupo entre março e agosto de 2021, com vítimas muitas vezes esquartejadas e deixadas em vias públicas como forma de intimidação.

O caso emblemático do assassinato de um adolescente venezuelano, de 16 anos, em maio de 2020, reforça o quadro de violência. O corpo do jovem foi encontrado com perfuração no pescoço e mãos amarradas sob a ponte dos Macuxi, em Boa Vista. A polícia acredita que o crime tenha ligação direta com o Tren de Aragua.

A prisão de integrantes da alta cúpula do grupo em Roraima, como Antonio José Cabrera e seu irmão Daniel, também aponta a força da facção no Estado. Os irmãos estão detidos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em Boa Vista, e são investigados por envolvimento em homicídios e tráfico. A polícia atribui a morte de um venezuelano a uma disputa interna entre facções, após a vítima deixar o Tren de Aragua para trabalhar para o PCC.

O delegado Wesley Costa de Oliveira, titular da Draco, alerta para o fato de que a expansão do Tren de Aragua foi facilitada pela ausência de fiscalização rigorosa sobre antecedentes criminais dos migrantes venezuelanos atendidos pela Operação Acolhida, responsável pela interiorização dos refugiados.

“Eles entram no Brasil com nomes verdadeiros ou falsos, e aqui parecem não ter nenhum registro criminal, o que facilita a atuação da facção”, afirmou.

Além do crime local, o grupo mantém uma logística para abastecer organizações criminosas brasileiras em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com armas e drogas contrabandeadas pela fronteira. Em Roraima, o Tren de Aragua também domina rotas para garimpos ilegais na Floresta Amazônica, como em Mucajaí, reforçando sua influência regional e nacional.

Com informações da Folha de São Paulo