Durante nova rodada de oitivas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Grilagem de Terras na Assembleia Legislativa (ALERR), realizada nesta quinta-feira (4), o engenheiro civil Jhonatan da Silva Tomáz, do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima), deixou a condição de testemunha e passou a ser investigado. A comissão apura denúncias de sobreposição de terras no Estado.

A denúncia foi apresentada pela Associação dos Agricultores Familiares do Projeto de Assentamento Ajarani, que acusa técnicos do Iteraima de facilitarem a grilagem de terras no sul de Roraima. Segundo a entidade, Jhonatan e o servidor Janderson Lúcio teriam cobrado valores para realizar serviços de georreferenciamento na vicinal “Zé Valdo”, localizada na Gleba Equador, em Rorainópolis.

Durante depoimento, Jhonatan foi questionado pelo relator da CPI, deputado Renato Silva (Podemos), sobre uma possível sociedade com o colega de órgão. Ele negou, mas apresentou versões contraditórias: inicialmente afirmou que não esteve na região, depois reconheceu ter feito vistoria no local, mas alegou não lembrar a data. Também negou ter indicado Janderson para prestar o serviço.

“Fui fazer vistoria na vicinal ‘Zé Valdo’. Na época havia conflito entre técnicos e divergências nos limites dos lotes. No Iteraima, temos uma lista de profissionais credenciados, passei alguns nomes, mas não foi só ele [Janderson]. A associação comparou valores e contratou, mas nada passou por mim em termos de pagamento”, disse.

Jhonatan também foi questionado sobre supostos favorecimentos a processos de regularização fundiária ligados a Gabriel Prestes, filho do governador Antônio Denarium (Progressistas). O relator apresentou documentos que indicam negociação de preços, formação de sociedade e uso do nome do Iteraima para prestação de serviços externos.

“Ele mesmo confirmou que procurou os colonos, ofereceu o serviço, negociou o preço. Então, claramente o Jonathan se tornou investigado e vai ser indiciado pela CPI”, afirmou o deputado Renato Silva.

Sobre a CPI

Instaurada em 20 de fevereiro, por meio do Ato da Presidência nº 003/2025, a CPI da Grilagem de Terras apura a atuação de uma possível organização criminosa responsável pela ocupação irregular de terras públicas em áreas urbanas e rurais do Estado. Estão entre os focos de investigação as glebas Baliza, Equador, Ereu, Cauamé e PDA Anauá.

Em pouco mais de seis meses de trabalhos, a comissão já realizou diversas oitivas, colheu depoimentos e apurou denúncias envolvendo grilagem, ameaças, agressões e danos contra pequenos produtores.