Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) visitaram no fim de setembro a etnia Xirixana da Comunidade Sicanabiú, localizada na região do Baixo Mucajaí, dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O objetivo foi instalar unidades de multiplicação de algumas espécies de plantas alimentícias não convencionais (PANC), como cará, araruta, taioba, inhame e cará-moela. As informações foram divulgadas na quarta-feira (8).

A equipe organizou unidades de observação para testar o desempenho dessas plantas nas condições de clima e solo da comunidade.

“Nós iremos avaliar quais variedades adaptam-se melhor para, então, serem cultivadas em maior escala na próxima safra a partir de abril, quando o período chuvoso na região favorece o plantio”, explicou o pesquisador Nuno Madeira, da Embrapa Hortaliças.

Durante a estação seca, no verão amazônico, os cultivos na comunidade são viabilizados pela irrigação feita a partir de tanque de peixes, abastecido por um poço artesiano com bomba movida a energia solar, atividade conduzida pelo técnico Ozélio Messias, da equipe da Embrapa Roraima.

Essa iniciativa considerou ainda uma visita técnica dos indígenas à Embrapa Hortaliças, em Brasília, realizada em março deste ano. Na ocasião, eles conheceram bancos de conservação das hortaliças tradicionais — também conhecidas como plantas alimentícias não convencionais — para identificar materiais que pudessem ser cultivados no território indígena, visando à melhoria da segurança alimentar e nutricional das comunidades.

A tradição alimentar do povo Xirixana é baseada em atividades como caça, pesca e coleta. No entanto, devido a problemas territoriais e degradação ambiental, o cultivo de alimentos — chamado de roçado pelos indígenas — tem ganhado maior expressão na base da alimentação local.

“Durante a visita, ficou muito claro que a mandioca continua sendo o principal alimento cultivado e consumido pelos indígenas e, por isso, a expectativa do projeto é contribuir com a ampliação da base alimentar com a introdução de novas variedades de hortaliças PANC, especialmente raízes e tubérculos, que contribuam para uma dieta mais rica e diversificada”, afirmou Madeira.

Com a instalação das unidades de observação, os indígenas demonstraram interesse em conhecer e inserir os novos alimentos na dieta, o que pode assegurar maior soberania alimentar para a população.

O projeto respeita os saberes tradicionais, buscando equilíbrio entre o conhecimento técnico e os aspectos culturais dos povos indígenas. O trabalho é uma construção conjunta baseada no diálogo e aprendizado mútuo, respeitando o ritmo e as crenças da comunidade.

A etapa seguinte envolve o acompanhamento do desempenho das espécies em teste durante os próximos meses. As plantas que se adaptarem bem serão selecionadas para o plantio na próxima safra, contribuindo para a resiliência alimentar dos povos indígenas da região.

O projeto é conduzido pela pesquisadora Rosemary Vilaça e conta com o apoio do Instituto Federal de Roraima (IFRR), responsável pelas ações com plantio de mandioca e pelo registro fotográfico das atividades, incluindo o uso de drones.